quinta-feira, 3 de março de 2011

O Casarão - capítulo I

É noite de céu azul e estrelado na cidade de São Paulo. Longe da agitação comum, um casal caminha sem direção por uma extensa praça, repleta de árvores, distraídos com o simples prazer de estarem acompanhados um pelo outro.

- Para onde estamos indo? - perguntou a moça.
- Ué, você nunca veio para estes lados? - gracejou o rapaz. A moça disse que não.
- Então eu vou te mostrar a casa mal assombrada que existe depois desta praça!!! - disse ele, tocando o braço da menina e levando-a para além das altas árvores que pareciam dar fim a praça. Ela quis resistir, mas parou, deslumbrada com o que via à sua frente: os fundos de uma casa abandonada, pouco iluminada, portões enferrujados, janelas quebradas... portas arrebentadas, tudo isso realçado pela linda noite de verão.

- Então, o que achou? - questionou o jovem, abrindo o pequeno portão que dava para um jardim, também em péssimo estado.
- Cuidado! E se aparecer alguém? - exclamou a garota, ainda deslumbrada com a grandiosidade da casa.
- Não tem ninguém aqui... eu sempre venho aqui! - respondeu o rapaz sentando em um banco do jardim.
- E o que você faz aqui? - disse a menina, sentando do lado dele.
- Ah... eu fico pensando... lembrando as coisas!
- E você lembra de mim?
- Lembro, sim... lembro do seu sorriso!
- Ah! Então eu vou comprar essa casa para que você lembre sempre do meu sorriso, quanto será que custa? - sorriu a menina.
- Eu não faço a mínima idéia... mas, e o seu coração, quanto custa, hein? - ele olhou particularmente para ela, que se assustou, mas antes que voltasse a se explicar, um barulho vindo de fora os interrompeu.
- O que foi isso? Deve ser alguém que vive aqui!
- Mas não mora ninguém aqui!!! Eu tenho certeza! - disse o garto, saindo e olhando para o quintal da frente - Acho que são visitantes... e estão vindo para cá! É melhor sairmos daqui depressa!!! - ele pegou a mão da garota e desapareceram pela praça. Instantes depois, um elegante rapaz, alto, cabelos e olhos castanhos, surge no mesmo jardim abandonado, certo de que tinha visto alguém saindo dali.
- O que foi, Lucas? Viu alguma assombração? - disse outro elegante rapaz de olhos verdes, também entrando no jardim.
- Beto, eu tenho certeza que tinha alguém aqui! Veja, o portão está aberto!
- Ah, isso é besteira! Quem viveria aqui? A não ser que sejam crianças ou jovens apaixonados!
Mas Lucas não desistiu e começou a vasculhar o local com os olhos, ficando em silêncio. Minutos depois, mais dois homem aparecem na cena. Um é o senhor Carlos Alberto Facchi, um riquíssimo administrador, já com seus 45 anos e pai dos dois jovens: Lucas de 17 e Alberto de 20 anos. O outro senho é João Correia, um corretor da imobiliária que pusera aquela casa à venda.
- Até que a casa é bem situada, Senhor Facchi, o único problema é que está em péssimo estado... o último proprietário, o Senhor Gouveia, simplesmente a abandonou depois de sair do país...há quase vinte anos!
- Mas uns dois meses de reforma e ela ficará como antes!!! - retrucou o Senhor Facchi.
- O senhor já morou aqui? - perguntou João Correia, interessado.
- Sim... nasci aqui... conheci a Lúcia, minha esposa, aqui... mas quando os negócios do meu pai pioraram fomos obrigados a vender a casa... eu devia ter uns quinze anos... meu maior sonho agora é reavê-la!
- Mas quer dizer que vamos morar aqui? - perguntou Lucas assustado.
- Sim, meu filho... vou fazer uma surpresa à sua mãe! Eu fico com a casa senhor Correia!!! - disse o senhor Facchi, pouco se importando com a cara de seu filho mais moço.
- Puxa! Pelo menos aqui eu fico mais perto da Larissa... - disse Alberto com olhar apaixonado.
- É! Mas aqui eu fico longe da Kelly, do futebol, da escola... é loucura mudarmos para cá!
- Já está decidido! Em dois meses estamos aqui e mais nenhuma palavra sobre isso! - disse o Senhor Facchi com seu autoritarismo conhecido e saindo do jardim com o Senhor Correia.
- É maninho... com o papai não dá pra brincar não!
Lucas já estava acostumado a nunca ser ouvido pelo pai, ao ver seu irmão sair, sentou-se no banco do jardim e começou a pensar... toda a sua alegre vida estava resumida em seu bairro, sua escola, o futebol e a sua namorada Kelly, a menina mais cobiçada. O que ele iria fazer longe de todos? Será que seria feliz? Neste momento ele olha para o chão e vê um cordão, desses que as mulheres geralmente colocam no pescoço. Ele tinha um pingente em formato de coração que estava aberto... de um lado a letra H e do outro a letra F.

Maria SB Sousa

10/09/1999

O Casarão - capítulo I